sábado, 13 de setembro de 2008

Educação e Internet.

Vivemos hoje num mundo de constantes transformações aos mais diversos níveis: político, social, económico, educativo, tecnológico, etc. Projetos que tempos atrás eram do âmbito da ficção científica, são agora uma realidade entre nós.

Duas das áreas que mais evoluíram nesta fase final do nosso século foram a informática e as telecomunicações. Nesta década um novo espaço de comunicação globalizou-se e deixou de estar restrito apenas a algumas pessoas: a Internet. Hoje com este meio é possível trocar informações instantaneamente, e aceder rapidamente a novas soluções. Assim, é pertinente considerar esta nova ferramenta como um precioso auxílio na aprendizagem.

Perspectivas Educacionais

As novas correntes de aprendizagem acentuam o fato de ser o indivíduo a construir o conhecimento. No entanto, tal fato não significa isolamento, nem individualismo. Hoje acentua-se a necessidade de em situação de aprendizagem o aprendente se relacionar com os outros. Mesmo em projectos de aprendizagem autónoma, ou autodirigida, o indivíduo tem de ser capaz de interagir com os outros. Desta forma, será importante abordar três perspectivas educativas que poderão oferecer um quadro teórico na utilização da Internet em situações de aprendizagem: o construtivismo , a perspectiva crítica, e a aprendizagem autodirigida.

O Construtivismo

Esta corrente tem origens variadas como os trabalhos de Piaget e de Vygotsky, entre muitos outros. Também a nova forma de a ciência encarar a realidade, colocando a ênfase na relatividade do conhecimento (Popper, 1963), contribuiu para a visão construtivista da realidade. Pode-se, pois, constatar que o construtivismo é uma corrente que tem um grande e variado conjunto de influências, não sendo uma teoria monolítica singular, mas um conjunto de perspectivas ligadas por uma similar visão do mundo. Assim, o discurso acerca do mundo não é uma reflexão sobre o mundo, mas um artefacto social. Segundo esta teoria existe uma predisposição inata do ser humano para dar sentido ao mundo que o rodeia:

Em vez de absorver ou receber passivamente o conhecimento objectivo do que está 'lá fora,' os aprendentes constróem activamente o conhecimento ao integrar a nova informação e experiências no que já tinham compreendido anteriormente, revendo e reinterpretando o antigo conhecimento em ordem a reconciliá-lo com o novo. (Kerka, 1997, p. 1)


A Aprendizagem Autodirigida

A aprendizagem autodirigida pode ser entendida à primeira vista como uma aprendizagem solitária e isolada, onde o aprendente autodirigido é representado como o Robison Crusoé da aprendizagem. A literatura mais relevante sobre esta temática tem centrado a sua atenção sobre a necessidade de na aprendizagem autodirigida, o indivíduo interagir com os outros. A aprendizagem autodirigida necessita e requer a colaboração com os outros (Brookfield, 1995; Garrison, 1992; Candy, 1991; Kerka, 1994). O aprendente autodirigido não deve ser visto como independente ou dependente, mas sim como interdependente, adquirindo os novos conhecimentos através do diálogo, feedback e reflexão com professores, facilitadores, mentores, colegas de aprendizagem, etc.: é na inter-relação com os outros que o verdadeiro sentido é alcançado (Brookfield, 1987; Garrison, 1992).

Ao longo do processo de aprendizagem, o aprendente autodirigido assume a principal responsabilidade de desenvolver diversas etapas do processo de aprendizagem autodirigida: identificação das suas necessidades de aprendizagem, estabelecimento de objectivos, elaboração de critérios de avaliação, identificação de recursos, implementação de estratégias apropriadas, avaliação dos resultados obtidos na aprendizagem (Knowles, 1975). Mas estes procedimentos pedagógicos não são suficientes para que o aprendente autodirigido tenha sucesso na sua aprendizagem (Long, 1991), ou para que se verifique verdadeiro controlo sobre a aprendizagem (Brookfield, 1986).

É necessário, pois, estar atento e analisar outras perspectivas, possibilitando a mudança interna da consciência psicológica do aprendente, ou seja aprender. É no aprendente que se desenrola todo o processo de aprendizagem, no sentido de que a aprendizagem é igual a processo interno (Long, 1991; Tremblay e Theil, 1991). Se o resultado é a mudança interna da consciência psicológica do aprendente (Brookfield, 1986; Garrison, 1992, Mezirow, 1985), o que é facto é que esta mudança só se verifica após o aprendente ter interagido com os outros (Garrison, 1992).

O aprendente autodirigido deve estar aberto a novas perspectivas e ideias, ou seja, deve estar aberto a novas aprendizagens, e é na inter-relação com os outros que ele descobre e valida outras perspectivas. Desta forma, o aprendente autodirigido não é dependente nem independente: é interdependente (Garrison, 1992). Mezirow (1981) sintetiza da melhor forma a aprendizagem como processo interno que visa o auto-conhecimento (reflexão crítica), a aprendizagem como função instrumental de ação no meio que envolve o aprendente, e a interação com os outros.